quinta-feira, 22 de novembro de 2007

O sabor dos dias

Porque há dias em que não podemos connosco nem com os outros, com um gato pelo rabo ou uma pena pela mão, porque tudo nos faz impressão, tudo nos irrita, tudo nos complica a sintonia instável do ser humano...

E porque há dias assim, as estrelas do céu perdem o significado e o arco-íris uma aberração da natureza em tons pastel, tão estranho e distante como os sentimentos e pressentimentos que a alma e a química humana não conseguem explicar...

Mas porque existem dias assim...? Para atazanar o juízo do anjo mais sóbrio à face da terra ou para fazer duvidar o maior crente na vida humana, cobrindo um dia (tempo precioso) de sombras que ofuscam os raios da lua e do sol com clarividências que nos custam a aceitar...!

Dias assim, em que não estou para mim nem para ninguém, nem para esse mais alguém que pressinto procurar-me e que pode resgatar-me deste tormento...desta vida em desalento...

E que mais...?! Porque nem todos os dias são iguais, nem todas as noites são vendavais, nem todas as flores são daninhas nem todos os sonhos são surreais...


(Paisagem Alentejana - Vale do Freixo)

"Um dia de chuva é tão belo como um dia de sol / Ambos existem; cada um como é" (Alberto Caeiro in Poemas Inconjuntos)

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Rosas

"O essencial é invisível para os olhos (...) Foi o tempo que dedicaste à tua rosa que fez a tua rosa tão importante (...)" (Antoine de Saint-Exupéry in O Principezinho).



(Rosas algures num Jardim Alentejano)


Como nem tudo na vida são rosas, os espinhos destas têm a condição útil de nos fazer ver que tudo o que é belo, [quase] nunca é perfeito. Então, vivemos uma vida à procura da perfeição se ela é apenas uma utopia entre os vassalos de uma ditadura?

E se sonharmos com as rosas, acordando com a serenidade que se acaso uma rosa encontrar, bom mesmo será cuidá-la para não murchar e aceitar os seus espinhos, não como defeito da sua [im]perfeição, mas algo que a caracteriza, então ai estamos a caminhar para um seguro sensato para a nossa estabilidade mental e emocional.

Procuro-me algures entre um jardim de mil e uma cores, formas e feitios das espécies raras e comuns de flores, confusa entre a multidão, por um minuto não tenho pé, mas tenho fé um segundo...sem querer, dou por mim, não como rosa, mas como um malmequer...desfolho-o pacientemente...mal-me-quer ou bem-me-quer...mal-me-quero ou bem-me-quero...



Hoje tirei os espinhos
Da minha rosa
(...)

Só hoje, com razão
Abri (...) meu tesouro
Encantado sem ouro
Ou preciosismos
Apenas abismos
Que receio enfrentar
E para não me magoar
Deitei fora os espinhos
Da rosa e dos caminhos..

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Caminhada ascendente

Quando se caminha para o céu, já nada se sonha que não seja o amanhecer, com o primeiro raio de sol a trespassar-nos o olhar como a espada que dá o golpe do qual não nos conseguimos defender.

Silêncio...

Dor...

Violência...

Nada mais nos incomoda no tudo em que se transforma a nossa existência, porque somos tudo para muitos e nada para outros.
E caminha-se como se não houvesse amanhã, porque já não há ontem, hoje nem amanhã, há presente que se torna num tempo indefinido...fica-se parado no tempo.
E se parou aqui algo a que chamamos vida, outras vidas continuam no seu ciclo, outras pararam e não se movem mais, apelam à misericórdia de uma piedade que se adivinhava desde o momento em que se nasce, mas que apenas se dá conta quando o céu nos aparece parafraseado como refúgio de alguém que vai e não volta.
Resta viver...resta sofrer...resta caminhar...resta reviver...

"Ninguém pode morrer. "Não matarás" não é um mandamento, é uma promessa: "Não conseguirias matar ainda que tentasses, porque a vida é indestrutível"" (Richard Bach in A Ponte para a Eternidade)