quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Borboleta

"Talvez o meu destino seja eternamente ser guarda-livros, e a poesia ou a literatura uma borboleta que, pousando-me na cabeça, me torne tanto mais ridículo quanto maior for a sua própria beleza." (Fernando Pessoa in Livro do Desassossego)


Sou borboleta amarrada ao casulo que há muito inventei para salvar a alma e a pele. No entanto, vivo das cores que o arco-íris me emprestou, quando ainda sonhava ser alguém que não sou.
Sou voadora entre as margens de um céu tingido de azul e uma terra atropelada de verde e cinzento, onde jamais a liberdade é confundida pelas prisões intelectuais...
A Liberdade é apenas translucida ao primeiro raio da manhã, entre os laivos de sábio e louco que existem em todos nós...
Sou Mariposa, ao sabor do vento, das adversidades do tempo e da necessidade, entre flores e jardins de estrelas que teimam em guiar-me quando já o sol se pôs... e que bem sabe ser guiada...!


Sou borboleta
Encantada marioneta
De pétalas e desejos
(...)
Entre terras e visitas
Procuro nas entrelinhas
Um aragem que me corre
(...)
Nas veias matizadas
Um pouco desbotadas
Das pinturas que não guardei
(...)
Não sobrou Folha nem Fio
Nem pincel de água doce
Para pintar mais uma tela
E de novo Mergulhar nela...


Agora que voo para longe
Fica o céu e as estrelas
Que nunca foram minhas
Fica o casulo que não encontrei
E o desejo que nunca desejei
Assim voarei...

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Sequências

Um segundo, um minuto, uma hora, um dia, um mês um, ano...uma vida.
Sequências infinitas entre aromas matizados de recordações, momentos, sentimentos que moram algures nas leis da bioquímica e da alma.
E agora, estranha a hora porque ela já passou...isto é apenas uma sequência registada...quantas outras que não tiveram a dignidade merecida e ficaram escondidas nos esquecimentos dos pormenores...porque são os pormenores que fazem a diferença.
De novo, sequência... a irreverência da prosa ou o enquadramento da poesia que não encanta... porque é profunda demais para sensibilizar ou encantar...talvez para mudar um pouco o ritmo, a melodia desconcertante do vento que não sentiste porque estavas abrigado em morno lugar, a tua sequência está no ar, mas noutra frequência...sintonia imperfeita.
Então, a sequência surge do tempo...cronómetro ou bússula pontual, nunca se deixa ficar mal, e teima em leva-nos para onde não sabemos...
Mas... ainda que esta sequência seja subtil e caprichosa... busquemos nela os momentos dignos que nos façam acreditar que um segundo, um minuto, uma hora, um dia, um mês um, ano...uma vida valem o significado que lhe atribuímos!


Nesta busca, fica uma sequência à qual acredito valer o tempo que lhe dediquei...

"A diferença entre um milhão e um bilião pode exprimir-se da seguinte forma: um milhão de segundos dura doze dias; um bilião de segundos, cerca de 30000 anos." (Autor Desconhecido).
"Vivo do meu desejo de viver" (Miguel de Cervantes)

"Heaven forbid you end up alone and don't know why / Hold on tight wait for tomorrow, you'll be alright" (Heaven Forbid - The Fray)

(Paisagem Alentejana)

De Porcelana é
O Sol que me ilumina
Frágil o raio
(...)
Prisma colorido
O orvalho
Que cai no soalho
Arco-Irís
(...)
Cores matizadas
Alforria da natureza
Em forma de vida...

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Cabo da "Boa Esperança"...

E mar adentro, entre rochas, naufrágios e salvações divinas, surge-nos um lugar onde ancorar sonhos, esperanças e ilusões, tantas vezes tão grandes como o oceano onde desagua os nossos erros e duvidas, mágoas ou perfeições...
Ancorando a existência, vivemos do pescado ou do sal que tempera amargamente em excesso, ou da fome em [in]diferença. As marés trazem um silêncio que soa a embalo, quando não há mais nada ou mais ninguém que nos acolha na sua existência...
Não somos, acaso, pescadores num cabo onde a esperança é o isco e a vontade é uma raiz que floresce entre ventos agrestes?


Pescador de sonhos
E de saudades
Nas tuas sandálias trazes
O sal
Do mar infinito
Onde teus olhos se perdem
Num só grito
De silêncio
Entre as ondas
Os peixes e amarras
Redes de vidas
Tuas e de quem nunca vistes...
(...)
Lanças esperanças
Porque para além de sonhos
Pescas mudanças
(...)

(Costa da Caparica)

"Não tenho barqueiro nem hei-de remar / Procuro caminhos novos para andar /(...) Corre um rio para o mar..." (Pronúncia do Norte - GNR e Isabel Silvestre, Letra: Rui Reininho)

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Efeito "Janela"

Quantas janelas tem a nossa vida, alma ou casa?
Quantos lados tem uma janela ou de quantas formas podemos abrir as nossas janelas?
Números à parte, cabe a cada um definir a forma como cuidamos das inúmeras janelas que compõem a sua casa, bem como, não esqueçamos, a forma de apresentação da mesma.
É através dela que a luz natural entra, aquece e ilumina os sentidos, da mesma forma que os aromas e sinfonias da terra invadem o espírito interior e enriquecem a alma da casa. Para tal, a janela entreaberta convida à troca harmoniosa entre espaços interiores e exteriores. Também a abertura da janela (cuidada) é sinal de vida, uma casa habitada onde esta se abre para além das suas paredes.
Mas, não se descuidem com as vossas janelas! O sinal de janela desabitada não convoca os sentidos, e se se encontram fechadas, como já alguém dizia, o sistema tenderá para a entropia, porque não há trocas de energias entre o sistema casa e o exterior! A prudência também é aconselhada (mas não em exagero), porque os tempos difíceis estão instalados e o roubo é um potencial perigo.
Ainda assim, apelo aos sentidos e bom gosto de cada um e... se tocarem à janela, não se esqueçam de abrir a porta!

" É o efeito das janelas (...) quando estão abertas, o corpo ilumina a alma e a alma ilumina o corpo, como um sistema de espelhos. Passado pouco tempo, forma-se à tua volta uma éspécie de halo..."(Susanna Tamaro in Vai Aonde te Leva o Coração)

Pôr-do-Sol...

O Pôr-do-Sol é mais do que um acontecimento rotineiro. Desde passar despercebido, (quando os minutos são mais rápidos do que um dia inteiro), representar o fim desejado de um dia ou o inicio de uma longa noite, ou até de uma nova vida... Este momento marca uma presença fundamental no nosso ciclo diário.
Talvez porque, para mim, a beleza destes minutos, antes do dia passar a noite, é envolvente e simplesmente encantadora, serão várias vezes que me dedicarei a enviar postais dedicados a esta delicia visual.
Deixo-vos alguns exemplares destes momentos, talvez em dias amenos, em que o dia era mais um longo dia passado e a noite ainda estava para ser adivinhada...




" (...) mas a felicidade está para a alegria como uma lâmpada eléctrica está para o sol. A felicidade tem sempre um objecto, é-se feliz por alguma coisa, é um sentimento cuja existência depende do exterior. A alegria, pelo contrário, não tem objecto. Possui-nos sem qualquer razão aparente, no seu ser assemelha-se ao sol, arde graças à combustão do seu próprio coração." (Susanna Tamaro in Vai aonde te leva o Coração).

(Barragem do Maranhão)

Porquê porque...

Caixa de Correio, vidas e espaços, entre objectos e pedaços, uma imagem simbólica, esperas, compassos, endereçados a quem gosta de receber momentos em forma de postal!
Estes postais serão resultado da paixão pela fotografia (ainda que amadora), pela reflexão ou pela vontade de saborear os momentos que os sonhos ou realidade nos proporcionam.
Espero que quem visite este espaço se sinta acolhido "entre as linhas e os espaços"..., assim como as temáticas que verão expostas, uma vez que estes postais são endereçados a quem tem a liberdade (e vontade) de os receber.
Desde já faço o convite aos sentidos, aos sonhos e deslumbramentos, assim como à expressão dos encantos (e desencantos) de cada postal!
Porque entreLinhas e entreEspaços, há quem "reparasse que nascera deveras. Sinto-me nascido a cada momento para a eterna novidade do Mundo..." (Alberto Caeiro)