sábado, 22 de dezembro de 2007

Simetria das Estrelas

"Os acontecimentos memoráveis são os efeitos visíveis das invisíveis mudanças dos sentimentos humanos" (autor desconhecido).

(Iluminações de Natal da Baixa Lisboeta, ano 2006)

Entre corredores de sonhos e fantasias, deparamo-nos com uma estranha sintonia que nos sopra ao ouvido e nos faz sentir bem...
Não sei se será por momentos ilusão, pura loucura ou um sorriso mais rasgado que desejamos escutar...então a simetria pode não ser bem real, mas a sintonia toma forma de cores, sons, sabores e texturas que nem sequer reconhecemos.
Então, abrimos as portas e janelas dos corredores e deixemos entrar a essência de um espírito puro ao qual nos resguardamos tantas vezes, com armaduras de pensamentos e muralhas de sentimentos...
Mas nem sempre é fácil partir a casca e deixá-la, porque é ela que nos acolhe nos dias frios e sem sabor, tão confortavelmente em posição fetal, mas que não nos deixa, harmoniosamente, estender os sentidos aos estímulos, sentimentos e sonhos que anseiam enriquecer-nos...Se acaso conseguimos ultrapassar este passo, então somos aventureiros destemidos à procura do céu na terra!
E se ao céu a simetria e perfeição encontras, não esqueçamos de olhar um pouco para os pés, porque esses são quem te sustentam durante a estadia neste canto do universo.
Façamos de nós um elemento único que caminha, aprende, deseja,sonha, vive...

Correm ruas e atalhos
Correm sonhos e orvalhos
Ao amanhecer
Ou entardecer
Porque não te podes esquecer
De viver

(...)
Porque crês
Nos teus desejos
(...)
Agarra-os
E Voa com eles
Nesta rua de infinito fim
Porque a vida é assim...

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Serenamente...incertamente...

Serenamente se olha para um futuro que vem do passado, e por mais incrível e surpreendente que seja... não conseguimos perceber o que vai acontecer!
Talvez não seja tanto surpresa, mas sim vontade de ser adivinha sem qualificações, habilitações ou mestria que valham a pena.
Então, que rumo tomar? Sentar e esperar (como diz Susanna Tamaro no meu último post), ou desesperar e correr para o mar (de sonhos, surpresas e de mistério, sejam eles bons ou maus...)?
Porque a construção do futuro tem hora marcada no presente, e o projecto é desenhado através do passado, experiências, histórias e canetas que fomos recolhendo no caminho muitas ou poucas vezes tortuoso...
E às vezes tudo isto mete medo, porque o futuro nem que seja daqui a uma hora, por vezes nos aparece na forma de uma densa cortina de nevoeiro, em que a expressão "não ver um palmo à frente do nariz" não está muito longe da realidade.
Mas, se o incerto nos tenta dominar, podemos procurar um pouco de paz e serenidade dentro de nós, porque temos sempre aquela essência que nos guarda da loucura e é um pequeno chapéu que nos guarda da trovoada eminente, e quem sabe até afastá-la...!
Positividade que serenamente admiramos, mesmo quando já não se vê o sol no horizonte, mesmo quando todos os pássaros voam para sul ou quando se contempla algo que não vimos, mas sabemos que existe, em algum ponto indefinido do universo e dá um aroma diferente ao céu e aos sentidos...

(Fim de Tarde - Alentejo, Vale do Freixo)

E quando já nada se sabe
Entre sonhos e verdade
Apenas fica
Uma metade de nós
Parte de vivacidade
Entre nós e pós de candeias
Castelos e ameias...
(...)


Então serenamente me aninho
Sobre a coberta rota
Ao frio sobreposta
Pele à mostra
Alma à solta
E armas guardadas
Porque entre rios e estradas
Somos caminhantes
Admiremos a paisagem!


Vira a página
Porque não és miragem...

sábado, 1 de dezembro de 2007

ÂnCoragem à Vida

Sonhar...
Desejar...
Esperar...
Querer...
Procurar...
Encontrar...
Saborear...
Ancorar...

Ancorar...

Ancorar... porque partimos sem sair do mesmo lugar, para paraísos longínquos, à distância de um desejo que vem do fundo das estrelas!
E se ao acaso nos rendemos, é nele que encontramos os motivos e coragem para rir, caminhar e desejar [muito] estar nalgum lugar que desconhecemos, mas ao qual pertencemos...
Está na altura de soltar amarras, fazer das fitas as estradas, dos sonhos os tijolos e dos sabores os sorrisos que desejamos sempre sempre ter guardados naquele cantinho da alma e do coração...!

(Parque das Nações - Lisboa)

"E quando à tua frente se abrirem muitas estradas e não souberes a que hás-de escolher, não metas por uma ao acaso, senta-te e espera. Respira com a mesma profundidade confiante com que respiraste no dia em que vieste ao mundo, e sem deixares que nada te distraia, espera e volta a esperar. Fica quieta, em silêncio e ouve o teu coração. Quando ele te falar, levanta-te, e vai para onde ele te levar." (Susanna Tamaro in Vai Aonde te Leva o Coração).

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

O sabor dos dias

Porque há dias em que não podemos connosco nem com os outros, com um gato pelo rabo ou uma pena pela mão, porque tudo nos faz impressão, tudo nos irrita, tudo nos complica a sintonia instável do ser humano...

E porque há dias assim, as estrelas do céu perdem o significado e o arco-íris uma aberração da natureza em tons pastel, tão estranho e distante como os sentimentos e pressentimentos que a alma e a química humana não conseguem explicar...

Mas porque existem dias assim...? Para atazanar o juízo do anjo mais sóbrio à face da terra ou para fazer duvidar o maior crente na vida humana, cobrindo um dia (tempo precioso) de sombras que ofuscam os raios da lua e do sol com clarividências que nos custam a aceitar...!

Dias assim, em que não estou para mim nem para ninguém, nem para esse mais alguém que pressinto procurar-me e que pode resgatar-me deste tormento...desta vida em desalento...

E que mais...?! Porque nem todos os dias são iguais, nem todas as noites são vendavais, nem todas as flores são daninhas nem todos os sonhos são surreais...


(Paisagem Alentejana - Vale do Freixo)

"Um dia de chuva é tão belo como um dia de sol / Ambos existem; cada um como é" (Alberto Caeiro in Poemas Inconjuntos)

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Rosas

"O essencial é invisível para os olhos (...) Foi o tempo que dedicaste à tua rosa que fez a tua rosa tão importante (...)" (Antoine de Saint-Exupéry in O Principezinho).



(Rosas algures num Jardim Alentejano)


Como nem tudo na vida são rosas, os espinhos destas têm a condição útil de nos fazer ver que tudo o que é belo, [quase] nunca é perfeito. Então, vivemos uma vida à procura da perfeição se ela é apenas uma utopia entre os vassalos de uma ditadura?

E se sonharmos com as rosas, acordando com a serenidade que se acaso uma rosa encontrar, bom mesmo será cuidá-la para não murchar e aceitar os seus espinhos, não como defeito da sua [im]perfeição, mas algo que a caracteriza, então ai estamos a caminhar para um seguro sensato para a nossa estabilidade mental e emocional.

Procuro-me algures entre um jardim de mil e uma cores, formas e feitios das espécies raras e comuns de flores, confusa entre a multidão, por um minuto não tenho pé, mas tenho fé um segundo...sem querer, dou por mim, não como rosa, mas como um malmequer...desfolho-o pacientemente...mal-me-quer ou bem-me-quer...mal-me-quero ou bem-me-quero...



Hoje tirei os espinhos
Da minha rosa
(...)

Só hoje, com razão
Abri (...) meu tesouro
Encantado sem ouro
Ou preciosismos
Apenas abismos
Que receio enfrentar
E para não me magoar
Deitei fora os espinhos
Da rosa e dos caminhos..

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Caminhada ascendente

Quando se caminha para o céu, já nada se sonha que não seja o amanhecer, com o primeiro raio de sol a trespassar-nos o olhar como a espada que dá o golpe do qual não nos conseguimos defender.

Silêncio...

Dor...

Violência...

Nada mais nos incomoda no tudo em que se transforma a nossa existência, porque somos tudo para muitos e nada para outros.
E caminha-se como se não houvesse amanhã, porque já não há ontem, hoje nem amanhã, há presente que se torna num tempo indefinido...fica-se parado no tempo.
E se parou aqui algo a que chamamos vida, outras vidas continuam no seu ciclo, outras pararam e não se movem mais, apelam à misericórdia de uma piedade que se adivinhava desde o momento em que se nasce, mas que apenas se dá conta quando o céu nos aparece parafraseado como refúgio de alguém que vai e não volta.
Resta viver...resta sofrer...resta caminhar...resta reviver...

"Ninguém pode morrer. "Não matarás" não é um mandamento, é uma promessa: "Não conseguirias matar ainda que tentasses, porque a vida é indestrutível"" (Richard Bach in A Ponte para a Eternidade)

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Borboleta

"Talvez o meu destino seja eternamente ser guarda-livros, e a poesia ou a literatura uma borboleta que, pousando-me na cabeça, me torne tanto mais ridículo quanto maior for a sua própria beleza." (Fernando Pessoa in Livro do Desassossego)


Sou borboleta amarrada ao casulo que há muito inventei para salvar a alma e a pele. No entanto, vivo das cores que o arco-íris me emprestou, quando ainda sonhava ser alguém que não sou.
Sou voadora entre as margens de um céu tingido de azul e uma terra atropelada de verde e cinzento, onde jamais a liberdade é confundida pelas prisões intelectuais...
A Liberdade é apenas translucida ao primeiro raio da manhã, entre os laivos de sábio e louco que existem em todos nós...
Sou Mariposa, ao sabor do vento, das adversidades do tempo e da necessidade, entre flores e jardins de estrelas que teimam em guiar-me quando já o sol se pôs... e que bem sabe ser guiada...!


Sou borboleta
Encantada marioneta
De pétalas e desejos
(...)
Entre terras e visitas
Procuro nas entrelinhas
Um aragem que me corre
(...)
Nas veias matizadas
Um pouco desbotadas
Das pinturas que não guardei
(...)
Não sobrou Folha nem Fio
Nem pincel de água doce
Para pintar mais uma tela
E de novo Mergulhar nela...


Agora que voo para longe
Fica o céu e as estrelas
Que nunca foram minhas
Fica o casulo que não encontrei
E o desejo que nunca desejei
Assim voarei...

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Sequências

Um segundo, um minuto, uma hora, um dia, um mês um, ano...uma vida.
Sequências infinitas entre aromas matizados de recordações, momentos, sentimentos que moram algures nas leis da bioquímica e da alma.
E agora, estranha a hora porque ela já passou...isto é apenas uma sequência registada...quantas outras que não tiveram a dignidade merecida e ficaram escondidas nos esquecimentos dos pormenores...porque são os pormenores que fazem a diferença.
De novo, sequência... a irreverência da prosa ou o enquadramento da poesia que não encanta... porque é profunda demais para sensibilizar ou encantar...talvez para mudar um pouco o ritmo, a melodia desconcertante do vento que não sentiste porque estavas abrigado em morno lugar, a tua sequência está no ar, mas noutra frequência...sintonia imperfeita.
Então, a sequência surge do tempo...cronómetro ou bússula pontual, nunca se deixa ficar mal, e teima em leva-nos para onde não sabemos...
Mas... ainda que esta sequência seja subtil e caprichosa... busquemos nela os momentos dignos que nos façam acreditar que um segundo, um minuto, uma hora, um dia, um mês um, ano...uma vida valem o significado que lhe atribuímos!


Nesta busca, fica uma sequência à qual acredito valer o tempo que lhe dediquei...

"A diferença entre um milhão e um bilião pode exprimir-se da seguinte forma: um milhão de segundos dura doze dias; um bilião de segundos, cerca de 30000 anos." (Autor Desconhecido).
"Vivo do meu desejo de viver" (Miguel de Cervantes)

"Heaven forbid you end up alone and don't know why / Hold on tight wait for tomorrow, you'll be alright" (Heaven Forbid - The Fray)

(Paisagem Alentejana)

De Porcelana é
O Sol que me ilumina
Frágil o raio
(...)
Prisma colorido
O orvalho
Que cai no soalho
Arco-Irís
(...)
Cores matizadas
Alforria da natureza
Em forma de vida...

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Cabo da "Boa Esperança"...

E mar adentro, entre rochas, naufrágios e salvações divinas, surge-nos um lugar onde ancorar sonhos, esperanças e ilusões, tantas vezes tão grandes como o oceano onde desagua os nossos erros e duvidas, mágoas ou perfeições...
Ancorando a existência, vivemos do pescado ou do sal que tempera amargamente em excesso, ou da fome em [in]diferença. As marés trazem um silêncio que soa a embalo, quando não há mais nada ou mais ninguém que nos acolha na sua existência...
Não somos, acaso, pescadores num cabo onde a esperança é o isco e a vontade é uma raiz que floresce entre ventos agrestes?


Pescador de sonhos
E de saudades
Nas tuas sandálias trazes
O sal
Do mar infinito
Onde teus olhos se perdem
Num só grito
De silêncio
Entre as ondas
Os peixes e amarras
Redes de vidas
Tuas e de quem nunca vistes...
(...)
Lanças esperanças
Porque para além de sonhos
Pescas mudanças
(...)

(Costa da Caparica)

"Não tenho barqueiro nem hei-de remar / Procuro caminhos novos para andar /(...) Corre um rio para o mar..." (Pronúncia do Norte - GNR e Isabel Silvestre, Letra: Rui Reininho)

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Efeito "Janela"

Quantas janelas tem a nossa vida, alma ou casa?
Quantos lados tem uma janela ou de quantas formas podemos abrir as nossas janelas?
Números à parte, cabe a cada um definir a forma como cuidamos das inúmeras janelas que compõem a sua casa, bem como, não esqueçamos, a forma de apresentação da mesma.
É através dela que a luz natural entra, aquece e ilumina os sentidos, da mesma forma que os aromas e sinfonias da terra invadem o espírito interior e enriquecem a alma da casa. Para tal, a janela entreaberta convida à troca harmoniosa entre espaços interiores e exteriores. Também a abertura da janela (cuidada) é sinal de vida, uma casa habitada onde esta se abre para além das suas paredes.
Mas, não se descuidem com as vossas janelas! O sinal de janela desabitada não convoca os sentidos, e se se encontram fechadas, como já alguém dizia, o sistema tenderá para a entropia, porque não há trocas de energias entre o sistema casa e o exterior! A prudência também é aconselhada (mas não em exagero), porque os tempos difíceis estão instalados e o roubo é um potencial perigo.
Ainda assim, apelo aos sentidos e bom gosto de cada um e... se tocarem à janela, não se esqueçam de abrir a porta!

" É o efeito das janelas (...) quando estão abertas, o corpo ilumina a alma e a alma ilumina o corpo, como um sistema de espelhos. Passado pouco tempo, forma-se à tua volta uma éspécie de halo..."(Susanna Tamaro in Vai Aonde te Leva o Coração)

Pôr-do-Sol...

O Pôr-do-Sol é mais do que um acontecimento rotineiro. Desde passar despercebido, (quando os minutos são mais rápidos do que um dia inteiro), representar o fim desejado de um dia ou o inicio de uma longa noite, ou até de uma nova vida... Este momento marca uma presença fundamental no nosso ciclo diário.
Talvez porque, para mim, a beleza destes minutos, antes do dia passar a noite, é envolvente e simplesmente encantadora, serão várias vezes que me dedicarei a enviar postais dedicados a esta delicia visual.
Deixo-vos alguns exemplares destes momentos, talvez em dias amenos, em que o dia era mais um longo dia passado e a noite ainda estava para ser adivinhada...




" (...) mas a felicidade está para a alegria como uma lâmpada eléctrica está para o sol. A felicidade tem sempre um objecto, é-se feliz por alguma coisa, é um sentimento cuja existência depende do exterior. A alegria, pelo contrário, não tem objecto. Possui-nos sem qualquer razão aparente, no seu ser assemelha-se ao sol, arde graças à combustão do seu próprio coração." (Susanna Tamaro in Vai aonde te leva o Coração).

(Barragem do Maranhão)

Porquê porque...

Caixa de Correio, vidas e espaços, entre objectos e pedaços, uma imagem simbólica, esperas, compassos, endereçados a quem gosta de receber momentos em forma de postal!
Estes postais serão resultado da paixão pela fotografia (ainda que amadora), pela reflexão ou pela vontade de saborear os momentos que os sonhos ou realidade nos proporcionam.
Espero que quem visite este espaço se sinta acolhido "entre as linhas e os espaços"..., assim como as temáticas que verão expostas, uma vez que estes postais são endereçados a quem tem a liberdade (e vontade) de os receber.
Desde já faço o convite aos sentidos, aos sonhos e deslumbramentos, assim como à expressão dos encantos (e desencantos) de cada postal!
Porque entreLinhas e entreEspaços, há quem "reparasse que nascera deveras. Sinto-me nascido a cada momento para a eterna novidade do Mundo..." (Alberto Caeiro)